Instituto Eduardo Frota
SOBRE O QUADRADO / da inconstância física à desobediência incorporada
Pensar um conceito para a inserção na cidade de um espaço de arte autônomo, é pensar um lugar voltado à produção e ao pensamento crítico da arte contemporânea experimental. O artista Eduardo Frota torna possível este desenho ao intervir no espaço expositivo da Sem Título Arte, inaugurando o Programa de Exposições Rotatórias. Uma intervenção que indica a posição de atuação deste espaço de arte em Fortaleza.
Rotatórias é um programa de exposições e proposições estéticas de artes visuais. A cada edição um artista visual é convidado a ocupar o espaço da galeria propondo livremente intervenções críticas contemporâneas para a cidade. Eduardo vem atuando nesse sentido por meio de seus trabalhos que extrapolam as questões da própria arte e avançam na dimensão política ampliando o debate sobre o lugar do sujeito na contemporaneidade.
O artista discute o próprio estatuto do cubo branco, muda a topologia do espaço, instaura um quadrado geométrico que provoca um movimento de torção na estrutura física, historicamente rígida, e esgarça a dinâmica de funcionamento da programação da Sem Título Arte. Os quatro troncos de eucalipto reflorestado, medindo cada lado aproximadamente seis metros, formam um quadrado inclinado, com alturas entre 0,80m a 1,50m que atravessa os três espaços expositivos, complementado pelo piso coberto de brita que dá volume e sensorialidade à obra instalada.
Com 1ª Lição de Geometria: O QUADRADO/ da inconstância física à desobediência incorporada , o artista reitera o seu interesse de pensar o espaço nos seus aspectos de significado e significante, a partir dos conceitos de espaço expositivo de que conhecemos na História da Arte e da rigidez institucional. Desloca ainda o visitante para a experiência do corpo que adentra a obra e a percorre pelos três ambientes, ao mesmo tempo que não consegue vê-la na sua totalidade. Nas palavras denFrota “é não apreender retinianamente, o que propõe uma experiência sensorial de deslocamento do corpo”. Dado recorrente nos seus trabalhos interventivos. Mas será mesmo um quadrado?
Se o quadrado é uma forma geométrica idealmente perfeita e abstrata, Eduardo o constrói com o embate dos materiais e sua condição de imperfeição física. Daí a sua ação política de sujeito no mundo, escavando uma utopia possível através da arte. Sem ser um matemático, o artista usa o elemento da geometria como disparador da primeira de uma série de quatro projetos de observação das figuras geométricas.
Sabemos que o conhecimento geométrico surgiu de forma intuitiva, a partir da observação humana ou, em outras palavras, a partir da consciência de que o homem apresenta um senso geométrico inato, adquirido na observação à natureza. Assim surgiram os primeiros polígonos: o quadrado e o retângulo. Esse tipo de acontecimento que deu origem à geometria, denominado de Geometria do Subconsciente, é utilizado por Eduardo Frota para criar a ficção de um quadrado que cria um problema de sintaxe entre forma e conteúdo. É um quadrado como uma ocupação circular que leva o visitante na direção de uma outra percepção: a de fazer a quebra da perfeição dos ângulos retos e criar uma figura geométrica perceptiva. Um quadrado que é um círculo, como resultado do movimento que atravessa todo o espaço. Ângulos retos criam a ilusão de um círculo que desconsidera as paredes, as amarras do cubo branco, sua rigidez física e conceitual. A imperfeição dos ângulos retos que recusam as amarras da perfeição.
Jacqueline Medeiros fev/2017